Desmantelamento da Previdência contestado

Travar a marcha<br>à ré no Brasil

No âmbito da preparação das jornadas marcadas para 8 e 15 de Março, nove centrais sindicais brasileiras promoveram anteontem um protesto contra o desmantelamento do sistema de previdência.

A proposta representa um grande retrocesso, afirma a CTB

Image 22271

De acordo com informações disponibilizadas no sítio da Internet da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB), as estruturas sindicais previam levar a Brasília e às reuniões solicitadas a todas as forças com representação parlamentar a rejeição do pacote normativo que o executivo golpista liderado por Michel Temer pretende impor.

Daqui até 16 Março será uma corrida contra o tempo, admitem as centrais, uma vez que o presidente da câmara baixa do Congresso já fez saber que pretende que a Proposta de Emenda Constitucional (PEC) seja discutida e votada numa dezena de sessões. Isto apesar de o hemiciclo dispor da faculdade de o fazer em 30 sessões e, mais importante, de o Supremo Tribunal Federal do Brasil ter instado o governo a sustentar com factos os argumentos que indicam que a «reforma» é necessária devido a um alegado défice inultrapassável nas contas.

A batalha dos números está, aliás, a fazer correr muita tinta no Brasil e deverá prolongar-se entre deputados e especialistas, em comissões e estudos. O fundamental, porém, é que subsistem dúvidas muito para além do razoável acerca dos dados apresentados pelo executivo de Michel Temer, estando mesmo em causa não apenas a sua fiabilidade mas uma clara intenção manipuladora.

Multiplicam-se as denúncias (de juristas, por exemplo) que indicam que as dívidas das maiores empresas ao sistema público de Segurança Social são o triplo do défice apresentado pelo governo para defender o desmantelamento da Segurança Social; que a manutenção na esfera estatal de importantes empresas e a exploração de recursos naturais, que o governo teima em privatizar, permitiriam colocar o sistema em superavit; que os incumprimentos dos estados estão na base de situações pontuais de ruptura financeira e que do ponto de vista económico não existem certezas sobre a insustentabilidade do sistema.

Todos à rua

«Temos um tempo muito exíguo. É importante que haja uma articulação política de grande envergadura» e é «fundamental o papel dos partidos ligados à luta dos trabalhadores e também a pressão das ruas para tentar alterar o quadro de adversidade, realçou o líder da CTB, Adilson Araújo, para quem «a proposta representa um grande retrocesso para a classe trabalhadora e para o país».

Na segunda-feira, 20, a Comissão Política do Partido Comunista do Brasil (PCdoB) divulgou um comunicado no qual considera o PEC da Previdência e o relacionado com as alterações à legislação do trabalho «uma verdadeira declaração de guerra do governo ilegítimo de Michel Temer ao povo e aos trabalhadores».

Na Constituição de 1988 e nas conquistas alcançadas posteriormente «os direitos trabalhistas e a Previdência Social foram consagrados como meios de protecção e valorização do trabalho, e de redução das desigualdades», acrescenta-se no comunicado do PCdoB, que apela a uma ampla mobilização para as jornadas dos dias 8 e 15 de Março convocadas por estruturas unitárias – movimento feminista, centrais sindicais e frentes Brasil Popular e Povo Sem Medo. Para dia 15 estão agendadas greves e paralisações, caso dos trabalhadores do sector da educação.

Trabalhar até morrer

O PEC 287 visa desmantelar um sistema orientado pelos princípios da solidariedade e universalidade, mudando as disposições em vigor de acesso à aposentadoria e de cálculo dos valores a que os beneficiários terão direito. Nesse sentido, o governo brasileiro propõe, entre outras:

  • O estabelecimento da idade mínima nos 65 anos para todos os trabalhadores, sem diferenciação de género, desconsiderando actividade penosas e desgastantes e as enormes diferenças na esperança média de vida que se registam entre as várias regiões do Brasil. Neste sentido, os trabalhadores rurais, os membros das comunidades originárias e as mulheres são particularmente penalizados.

  • Aumento do período mínimo de descontos mensais de 15 para 25 anos consecutivos num mínimo total de 49 anos (65 anos menos 16, que no Brasil é a idade mínima para iniciar actividade laboral regular). Na prática, tal torna quase impossível aceder à pensão integral em virtude da precarização dos vínculos laborais, que colocam a maioria dos trabalhadores em situação de inactividade ou informalidade forçadas por diversos períodos ao longo da respectiva carreira contributiva, mesmo considerando que se inicia os descontos aos 16 anos, o que não é de todo o mais normal.

  • Os homens com mais de 50 anos e as mulheres com mais de 45 são sujeitos a uma transição que os obriga a acréscimos de descontos de 2,5 anos, ao que se soma o facto de as regras de cálculo serem alteradas dos actuais 80 por cento dos melhores valores médios auferidos para 51 por cento, levando a que em qualquer situação os trabalhadores sejam penalizados face ao actual regime.



Mais artigos de: Internacional

Pentágono usou urânio

Em pelo menos em dois bombardeamentos na Síria, a aviação norte-americana usou munições com urânio empobrecido. E vai voltar a fazê-lo, garante o Pentágono.

CPPC levou Trump<br>a debate

«A administração Trump, a situação nos EUA e suas repercussões na situação internacional» foi o tema de um debate promovido pelo Conselho Português para a Paz e Cooperação (CPPC) ao final da tarde de segunda-feira, 20, na Casa do Alentejo,...

PAICV reuniu Congresso

«Por um PAICV mais forte, por um Cabo Verde mais justo», foi o lema do XV Congresso do Partido Africano da Independência de Cabo Verde, realizado no passado fim-de-semana, na Cidade da Praia. Durante três dias, mais de 400 delegados vindos de todas as ilhas e de...

Terrorismo de classe

Depois de uma fuga de informações, na semana passada, ter revelado planos da administração para recorrer às forças armadas para deportar até seis milhões de imigrantes, dois memorandos da Casa Branca confirmaram, esta terça-feira, a gravidade das suspeitas:...